Foi a partir de uma conversa com duas brasileiras que os empresários norte-americanos Ira Liran e Michael Kirban decidiram investir em um negócio que tinha como foco a água de coco. Após descobrirem a falta que o produto fazia aos brasileiros que residiam nos Estados Unidos, os dois amigos vieram ao país para conhecer a bebida. Em Pernambuco, descobriram que o produto podia ser comercializado em embalagens de tetra pak e, em 2004, fizeram um investimento inicial de US$ 100 mil para montar a startup Vita Coco, responsável por levar a iguaria aos Estados Unidos. Três anos após a criação, os proprietários venderam 25% das ações para a firma de investimentos Verlinvest, da Bélgica, por US$ 7 milhões. Atualmente, a Vita Coco é líder de mercado, com faturamento anual de US$100 milhões e entre seus demais sócios estão, ninguém menos que, Madonna, o ator Matthew McConaughey e a estilista Diane von Furstenberg.
Cases de startups de sucesso têm se tornado comuns. Mas, afinal, o que significa o termo cada vez mais presente no dia a dia midiático? “O empreendedorismo se apossou do termo startup para significar uma nova instituição atuante – um sistema de suporte e alavancagem de novos empreendedores e negócios. Em resumo, o termo startup está relacionado a empresas novas com custos muito baixos e crescimento muito rápido”, explica Miguel Scotti, professor de Estratégia Empresarial do ISAE/FGV.
O modelo de negócios tem feito sucesso e atraído milhares de investidores, privados e públicos. De acordo com dados da Anjos do Brasil – entidade sem fins lucrativos que fomenta o investimento feito por pessoas nas startups – o número de pessoas físicas que aplicaram recursos e conhecimento em empresas iniciantes aumentou em 18%, passando de 5.300 para 6.300, de 2010 para 2011. Ainda segundo a organização, o volume de capital total investido também cresceu em 10%, subindo de R$ 450 milhões para R$ 495 milhões. O próprio Governo Federal, de olho na tendência, criou um programa de estímulo às startups. O Start Up Brasil conta com um pacote de investimentos no valor de quase meio bilhão de reais para incentivar a indústria de tecnologia, a formação de empresas e o crescimento do mercado de softwares no Brasil. O BNDES, desde 2007, mantém um fundo de capital de risco com o objetivo de investir, ao longo de 10 anos, 100 milhões de reais em startups.
Os setores de tecnologia e inovação têm sido grandes beneficiados pelos apoiadores das startups. Dadosdo Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV – Eaesp mostra que o montante destinado às empresas iniciantes da área de tecnologia e web superou os US$ 750 milhões em 2011, ante os cerca de US$ 300 milhões obtidos entre 2005 e 2008.
Mas nem só de investidores se faz uma startup. A disposição do capital humano é indispensável. E, quanto a isso, o Brasil parece estar bem servido. Um estudo recente da Endeavor, organização global de apoio aos novos empresários, revelou que 65% dos universitários brasileiros desejam ter um negócio próprio no futuro. De acordo com o Banco Mundial, o Brasil já é o terceiro país mais empreendedor do mundo, atrás só dos EUA e do Reino Unido.
Como abrir uma startup
Creio que, entre as premissas fundamentais para a criação de uma startup, estão as de sempre: o empreendedor e a identificação de um problema no mercado a ser resolvido. Já os conceitos de baixo custo e crescimento rápido exigem a clara definição do modelo de negócio e alianças estratégicas. O modelo de negócio envolve os conceitos de negócio e as escolhas estratégicas, tais como: quem são os parceiros estratégicos; qual é o público alvo da empresa; qual é a estratégia; qual é a proposta de valor aos clientes; como a empresa vai se relacionar com os clientes; quais são os canais de distribuição; que atividades críticas precisam ser desenvolvidas; quais as competências e recursos necessários para isso; quais são as receitas; e qual a estrutura de custos necessária e adequada a viabilizar o projeto. Já o estabelecimento de alianças estratégicas pode impulsionar desde a definição do próprio modelo de negócios, até criar relacionamentos com investidores, sócios, clientes, distribuidores, fornecedores e desenvolvedores. O mercado de apoio ao empreendedor e ao desenvolvimento de startups no Brasil ganha grande impulso com a redução da possibilidade de ganhos com aplicações no mercado financeiro. São muitas as associações de investidores e outros interessados nos retornos possíveis e nas possibilidades de negócio no entorno das startups: investidores, escolas de empreendedorismo, consultores, incubadoras, escolas de negócio, fornecedores de infraestrutura compartilhada e virtual de baixo custo, organizadores de eventos de relacionamento e fornecedores de serviços. Alguns desses, associados e organizados sob o nome de aceleradoras.
Miguel Scotti
Texto extraído de http://www.isaebrasil.com.br/revista/edicao19/index.html?&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Confira+a+19%AA+edi%E7%E3o+da+Revista+Perspectiva+ISAE#11